Astroturismo: experiência sensorial une contemplação dos astros, ciência e preservação ambiental
Com os pés na terra e a cabeça nas estrelas, o astroturismo possibilita viajar para vários destinos no mundo
Eclipses lunares, chuva de meteoros, eclipse solar de “anel de fogo”, superluas, conjunção de Vênus e Saturno: o calendário de espetáculos no céu está agitado em 2023. Os eventos servem de estímulo aos observadores do espaço, em busca de destinos para contemplar as estrelas. Lança luz a uma modalidade de experiência em expansão: o astroturismo.
Há milênios, o ser humano olha para o céu na tentativa de decifrar os mistérios do universo e compreender a si mesmo. O fascínio pelo Cosmo inspira poetas, cientistas e filósofos. Está registrado na mitologia, na religião e em achados arqueológicos de 32 mil anos, do período paleolítico, como um pequeno osso de águia, que sinalizava as fases da lua.
A vida nas cidades, com horizontes de concreto e excesso de luzes artificiais, ofuscou as luzes das estrelas. O “apagão” no céu distanciou dos movimentos siderais, e o astroturismo busca resgatar essa conexão ancestral, com a associação da astronomia, preservação ambiental e outras ciências.
O que é astroturismo?
A prática, relativamente recente, cresceu na pandemia, motivada pelo desejo de reintegração com a natureza. Une a observação dos astros e fenômenos espaciais com a conservação do firmamento. É definida como uma forma de turismo consciente e sustentável, que protege e valoriza o céu estrelado, considerado patrimônio cultural.
Uma atividade lúdica e científica, que pode ocorrer em planetários e observatórios astronômicos, mas que se fortalece como turismo de aventura, longe dos centros urbanos, em locais de céu escuro. Os destinos procurados têm condições climáticas e topográficas ideais e baixa contaminação luminosa e atmosférica.
O céu, que no passado remoto servia de guia, inclusive para as navegações, agora é a própria viagem. Com os pés na terra e a cabeça no espaço sideral, os amantes do astroturismo buscam itinerários fora do burburinho das rotas convencionais, com o céu limpo. A seleção de lugares especiais abrange desertos, montanhas, praias e vales.
É um turismo de experiência sensorial para o astrônomo Elielson Pereira, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). “O sentido primordial trabalhado é a visão, mas depois vem a audição – ouvimos sons da natureza, de alguns animais, ou até mesmo percebemos sons mais distantes”, sintetiza.
Poluição luminosa
“Navegar pelas estrelas” depende das condições de visibilidade no céu, que é afetada pela poluição luminosa, causada pelo excesso de luz artificial. O problema faz com que um terço da população mundial não consiga enxergar a Via Láctea, conforme estudo da revista Science, que criou uma espécie de atlas da poluição luminosa.
A expectativa é que o atlas abra os olhos para a questão planetária. O excesso de luminosidade é nocivo também para os ecossistemas e ciclos biológicos. No corpo humano, interfere na produção de melatonina e prejudica o ritmo circadiano, responsável por regular as atividades do organismo.
Condições ideais
Os melhores lugares de observação no mundo são certificados pela Fundación Starlight (FS) e pela International Dark Sky Association (IDA). Em dezembro de 2021, o Parque Estadual do Desengano, no estado do Rio de Janeiro, foi o primeiro do Brasil e da América Latina a receber a certificação IDA, devido às excelentes condições do céu noturno.
A conquista abre caminho para que outras ocorram. O Brasil tem muitas regiões recônditas, com céu escuro, baixa concentração demográfica e condições climáticas propícias ao astroturismo, mas a atividade ainda é incipiente. O potencial do país esbarra em desafios como estudo de viabilidade, legislação e capacitação dos profissionais de turismo.
Existem quase três centenas de Dark Sky Parks no mundo; os parques de céu escuro certificados desenvolvem programas de conscientização ambiental, preservação e redução da poluição luminosa.
Alguns requisitos são essenciais para um astroturismo de qualidade:
- Ser um local em alta altitude, por ter melhor transparência no céu.
- Estar distante de centros urbanos, para evitar a poluição atmosférica e luminosa.
- Escolher um período ou uma região mais seca, com baixa nebulosidade e menor volume de chuva.
- Ter como foco principal a educação e preservação ambiental.
Onde observar
Da América até a África, o astroturismo desponta promissor, como uma forma de turismo sustentável e responsável socialmente. A modalidade está consolidada nos Estados Unidos, é difundida na Europa, e no Chile tem posição de protagonismo. Confira alguns lugares no planeta para contemplar as estrelas:
- Alentejo, Portugal.
- Namíbia, no sudoeste da África.
- Parque Nacional Kruger, África do Sul.
- Wadi Rum, Jordânia
- Tenerife, Espanha.
- Parques nos Estados Unidos.
- Deserto do Atacama, Chile.
- Nuweiba e Deserto Branco, Egito.
- Deserto do Saara, Marrocos.
- Cerro de La Buena Vista, Uruguai.
No Brasil, alguns locais se destacam:
- Parque Nacional do Desengano, Rio de Janeiro.
- Alto Paraíso de Goiás, Goiás.
- Serra da Mantiqueira, Minas Gerais.
- Vale do Paraíba, São Paulo.
Energia que vem da estrela
A contemplação dos astros é fonte de prazer, ciência e economia. Com a emergência climática, investir em sustentabilidade é imperativo. A energia solar já é a segunda mais utilizada no mundo e nas próximas décadas deve assumir a dianteira. O financiamento de energia solar é uma alternativa inteligente para instalar o sistema fotovoltaico, com retorno rápido do investimento. A autonomia na geração da própria energia valoriza o imóvel e reduz em até 95% a conta de luz. A conexão com o astro-rei possibilita escrever uma nova narrativa para a humanidade, com menos impacto ambiental.
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