Carro de baixo custo proposto pelo Governo Federal precisa vir sem ar condicionado, direção hidráulica e muito mais
Para que o preço do carro popular seja reduzido de R$ 70 mil para a desejada faixa de R$ 50 mil proposta pelo governo, seria necessário excluir até funcionalidades básicas.
Em meio a um contexto muito diferente dos anos 90, o potencial retorno do carro popular proposto pelo Governo Federal suscita questionamentos. É possível transformar um automóvel que, atualmente, tem alto custo de fabricação em um carro de baixo custo?
Ao longo das últimas três décadas, a evolução dos automóveis tem sido marcante, impulsionada pela competitividade do mercado, legislações vigentes e a contínua inovação tecnológica. Isso tornou o cenário automobilístico de hoje bastante diverso do que víamos em 1993.
Para que o preço seja reduzido de uma média atual de R$ 70 mil para a desejada faixa de R$ 50 mil, seria necessário produzir um carro popular que exclua as funcionalidades básicas. Em outras palavras, o carro deveria ser entregue sem itens como ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, e sistema de som pré-instalado.
Itens como injeção eletrônica, airbags e freios ABS são obrigatórios mesmo em carro de baixo custo proposto pelo governo
Diante deste impasse, consultores e especialistas do setor automotivo foram questionados. Segundo Paulo Garbossa, consultor da ADK Automotive, não é viável tornar os automóveis mais baratos nesta conjuntura. Mecanismos importantes, como o motor, precisam de diversas inovações para torná-los mais econômicos e diminuir suas emissões, como a injeção direta de combustível. Além disso, é obrigatório por lei a inclusão de airbags e ABS. De acordo com Garbossa, eliminar todos os recursos do carro para cortar custos não é uma opção, já que ninguém deseja adquirir um carro sem essas funcionalidades.
Apesar das dificuldades, é vital lembrar que este tipo de veículo persistiu ao longo do tempo, sendo incorporado em modelos como Mobi Like e Kwid Life. No entanto, isso não resultou em avanços significativos, uma vez que esses carros acabaram sendo usados principalmente em frotas.
Confortos como ar condicionado e direção hidráulica não são mais considerados opcionais para o consumidor
Sistema de ar condicionado e direção hidráulica já são considerados básicos em qualquer veículo zero quilômetro, além disso, Erwin Franieck, engenheiro e presidente do instituto SAE4Mobility, reforça que um veículo sustentável, eficiente e seguro requer uma série de sistemas e itens essenciais, como chapas de aço reforçadas para crash tests e outros componentes.
Tais elementos geram um custo adicional de pelo menos US$ 2.000 (cerca de R$ 9.900 em conversão direta) no veículo. Fica claro, então, que retrocessos nos níveis de sustentabilidade e segurança já alcançados não devem ser tolerados.
Não existe uma solução milagrosa para tornar o carro popular do Governo Federal uma realidade viável novamente. Como Garbossa ressalta, a contribuição coletiva é fundamental. Parece mais lógico buscar alternativas como reduções tributárias, cortes de margens, extensões de financiamento, linhas de crédito especiais, financiamento para peças de automóveis e taxas de juros subsidiadas para carros até R$ 100.000, ao invés de tentar reviver uma ideia do passado.
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